Trecho Norte do Rodovia Mogi-Bertioga vira área de lazer, invasão e entulho

Após obras serem totalmente paralisadas em março, caminhões jogam dejetos sob viadutos, ocupações crescem e moradores praticam esportes.

O trecho Norte do Rodovia Mogi-Bertioga, que foi prometido para 2014 como uma importante via para desafogar o trânsito na capital paulista, está completamente abandonado com as obras incompletas.

As pistas e viadutos que seriam uma alternativa à Marginal Tietê viraram palco de descarte de entulho e abrigo para moradores de rua.

As partes mais limpas são usadas por habitantes da Zona Norte e de Guarulhos como áreas de lazer. E no entorno, as invasões crescem a cada dia. Tudo isso acontece sem a presença de nenhum tipo de fiscalização ou interdição.

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A rodovia de 44 km de extensão é a maior obra de infraestrutura do estado e o último trecho que falta para fechar o Rodovia Mogi-Bertioga da Grande São Paulo, já que os demais já estão em funcionamento. A obra é esperada não apenas por ser uma alternativa à Marginal Tietê, mas por facilitar o acesso a estradas e ao aeroporto de Guarulhos.

A construção começou já com atraso em 2013, orçada em cerca de R$ 10 bilhões em valores atualizados. Ao longo dos anos, denúncias de fraudes e superfaturamento acompanharam a obra. Funcionários da Dersa, empresa do governo de São Paulo responsável pelo empreendimento, foram acusados de fraude, e o ex-presidente da companhia foi preso.

Os canteiros começaram a ser abandonados ainda na gestão Geraldo Alckmin. Os primeiros trechos afetados foram os que estavam a cargo das empreiteiras OAS e Mendes Júnior, que acabaram denunciadas na Operação Lava Jato por fraudes na Petrobras e entraram em recuperação judicial.

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Os contratos foram rescindidos pelo governo de São Paulo. Em março deste ano, os demais lotes foram abandonados, e a gestão João Doria (PSDB) estuda como retomar a construção.

Em um dos últimos canteiros abandonados, no entroncamento entre o Trecho Norte e a Fernão Dias, a degradação já pode ser vista à distância. Uma enorme quantidade de entulho se acumula em uma alça do complexo viário, acessada por quem trafega na Fernão Dias no sentido Belo Horizonte e vai entrar em bairros vizinhos.

O coletor Ananias Santos, morador da Vila Galvão, em Guarulhos, afirma que passa diariamente pelo local para ir ao trabalho e que é constante a presença de caminhões despejando restos de construção. “À noite acontece de tudo embaixo do viaduto. Despejo de lixo, gente usando droga. A região está ficando degradada”, afirma.

Lazer

Se do lado debaixo dos viadutos a sujeira é comum, do lado de cima são os moradores da região que tomam conta do espaço. Apesar de as pistas não estarem concluídas e ainda haver trechos de terra, os vizinhos acabam usando de forma improvisada as partes mais adiantadas da obra.

O técnico em informática Adriano Petrini e o motoboy Tiago Sarkis, moradores do Tucuruvi, na Zona Norte, vão três vezes por semana pedalar no local e comemoram o fato de a pista proporcionar algo raro em São Paulo: a possibilidade de não ter que disputar espaço com os carros.

Eles afirmam que é possível praticar esportes sem ser incomodado e que não há assaltos. Ainda assim, os esportistas lamentam o atraso na obra porque também possuem veículos e gostariam de poder usá-los no Rodovia Mogi-Bertioga.

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“É gostoso pedalar aqui. Mas essa paralisação prejudica todo mundo que espera poder viajar. Eu poderia estar usando para chegar rapidamente à Rodovia dos Imigrantes em viagens para o litoral, e a outras estradas em viagens para o interior. Isso ainda vai ter que esperar”, afirma Adriano Petrini. Outro uso comum de lazer é nos finais de semana, quando crianças vão às pistas para empinar pipas.

Quem usa a área como parque divide o espaço com moradores de bairros da região ou de áreas invadidas que crescem constantemente em plena Serra da Cantareira, que é cortada pelo Trecho Norte. Eles usam as pistas buscando atalhos entre bairros de São Paulo e Guarulhos.

Alguns levam ferramentas e outros materiais usados na montagem dos barracos, como o pedreiro Adão Nogueira, de 51 anos. “Emprestei a enxada para o pessoal preparar o terreno”, contou.

Na quarta-feira (30), duas casas improvisadas com lonas e madeiras eram montadas a cerca de 200 metros da Rodovia Fernão Dias. Há também casos de moradores de rua que dormem sobre os viadutos em barracos mais improvisados.